Chamou-me a atenção ao esbarrar na parede.
Carregava uma sacola de plástico em uma mão e nos ombros uma de pano. Cambaleante, as roupas e partes aparentes do corpo demonstrando não haver encontrado água por dias.
Passou longos minutos empilhando caixas de papelão que se encontravam espalhadas na calçada e seguiu catando cada papel displicentemente deixado no chão. Alguns, colocou nos bolsos, outros, maiores, num container de obras.
Fiquei intrigada e pensei em mim.
De passagem, empilhando coisas, organizando, arrumando. Ações aparentemente inúteis e sem sentido. Em questão, a minha frieza no meu contato com as pessoas e como costumo disfarça-la, sob uma aparência cordial. Ou será a frieza o disfarce?
À minha frente, minha imagem refletida. Um corpo no espelho. Uma semente sufocada pela terra que germinou, espalhou raízes profundas, projetou-se um tanto para o alto e para os lados. Uma árvore, uma planta que caminha, contrariando sua natureza, repetindo atos contínuos.
Imitando outros seres, tenho tentado aprender a amar. Coisas, pessoas... Sei que tem o amor que se prova com a visão, sendo possível incinerar com os olhos sem causar danos aparentes. Outros tipos que se experimenta com o tato, o olfato, o paladar, o ouvido, combinando os sentidos, ou não, mas sempre dentro de limites.
E ainda, o amor universal, além dos sentidos, praticado pelo ser mais elevado que almejo tornar-me.
Testando-me, perguntei ao meu coração: - Daria a vida por aquela pessoa?
Como uma máquina onde se coloca uma moeda por algum serviço, ele tilintou, moveu-se, provavelmente passando por milhares de fios e circuitos multicores, buscando o que corresponderia à minha pergunta.
Parece que tanto os instintos como os mais avançados sistemas conhecidos até aqui, naturalmente, passam por um crivo, um processo de seleção. Não é tudo para todos.
Com o sol sobre a cauda do dragão (em Astrologia, significa que estão sendo iluminados os valores do meu passado que ainda mantenho), observo alguma hipocrisia nesse amor que considero expansivo, por vezes, acreditando poder amar quem nem ao menos conheço.
Mas espere!
Se me refiro ao amor como o de Deus, que é o universo fora, dentro e além... Eu, que tenho o universo dentro, apenas, como posso querer igualar-me a Ele?
Nesse intuito, num gesto de pretensão e arrogância, costumo sair me dividindo, como a um bolo, distribuindo células, pedaços de órgãos. Resquícios do tempo em que se valorizava retalhar corpos com afiada espada sob qualquer pretexto?!
Subitamente, o coração esboça a resposta, que chega sob a forma de outra pergunta e inverte a direção da caminhada:
— Quanto vale a sua vida?
Aquela, questionava o valor do outro.
A CULPA SEMPRE POR TRAS DE TODAS AS NOSSAS INTERPRETAÇÕES E QUESTÕES. ELA É O ELEMENTO PRINCIPAL DE TODAS AS CONTRADÇÕES QUE ENCONTRAMOS NO NOSSO CAMINHO TANTO INTERNO QUANTO EXTERNO. A CULPA CRIOU AQUELA IMAGEM, PROJETANDO-SE, COM O FIM DE GARANTIR UM ESCONDERIJO ONDE DEUS NÃO DESCUBRA POIS TEMO PELO CASTIGO POR TER SUPOSTAMENTE ME SEPARADO DELE. É UM CONTEXTO INTRINCADO, MAS O QUE NÃO É INTRINCADO QUE É FEITO PELO EGO? CULPAMO-NOS, E NÃO AGUENTAMOS A DOR DESSA CULPA, E ENTÃO A PROJETAMOS, COM O FIM DE CULPAR O OUTRO EM NOSSO LUGAR, PORÉM ESSE É UM CÍRCULO VICIOSO INTERMINÁVEL QUANDO NOS DAMOS A ESSA ADAPTAÇÃO A UM SISTEMA QUE USA DE TODAS AS ESTRATÉGIAS PARA NOS MANTER EM SEUS LAÇOS TENTANDO GARANTIR SUA SOBREVIVENCIA AS CUSTAS DE NOSSAS VIDAS.
ResponderExcluirTem razão, cara Emilia! Nosso ego tem sido construido ao longo de tantas existências! Quebrar a carapaça dá medo. E se doer? A culpa nos desvia da visão, da compreensão exata, limpa, dos fatos. A culpa é o vapor, a névoa no espelho. Para ver, basta um gesto de mão. Bom saber que você está aí, do outro lado!
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