Aos poucos, ela ia vencendo a dor. Paulatinamente, voltava a raciocinar...
Acompanhando o que considerava ser um de seus melhores momentos de lucidez sensorial, os ossos de sua face que, sem perceber, vinha massacrando ao longo de sua vida, gritaram seu apelo definitivo, fazendo-a desmoronar fisicamente.
Nas brumas da noite, tensão, ranger de dentes.
Sim, muita coisa deve ser trancada dentro de nós, ensinaram as vivências anteriores.
Deve-se usar um véu para ir ao confessionário. Branco, para quem é virgem. Hipótese contrária, preto ou cinza. Ansiosa, repassava cada passo do ritual: o que ia falar, o que o sacerdote iria responder... - Você é uma menina virtuosa, disse ele, sentenciando-lhe a penitência pelos pecados confessados.
Se não tiver confessado todas as suas faltas, o Corpo de Cristo sangrará em sua boca.
Também tem aquela máquina de apertar os dedos e outros inventos infalíveis para produzir sofrimento.
Cessadas as tentativas de extrair a confissão, ainda existem os instrumentos cortantes, capazes de retirar a pele, separar a carne dos ossos...
Qual era o segredo, afinal?
Ela nem se lembrava mais, tantos anos enterrada viva.
Ao receber o Chamado, reviveu a sensação de liberdade, como se voltasse de uma viagem ao centro da Terra.
O mestre havia dito que ela tinha um terceiro olho, onde se instalara uma energia prateada, que podia enxergar o invisível.
SacaRose, apelidara ele.
Talvez tivesse vislumbrado seu ser, previsto o desenrolar de toda história, usando seu dom inerente. Ou então, simplesmente, através de um processo natural, as sinonímias foram se agregando naturalmente.
Sacarose. Produto que tem uma origem natural, porém, existem adições químicas que o modificam. Fabricada para solucionar o amargor, equilibrar os desequilíbrios de doçura. Quase natural, quase perfeito.
Ela sempre se esforçava para adoçar os outros. Tinha as receitas. Era quase natural, quase perfeita. Podia passar despercebida, sem incomodar ninguém. Sem decepcionar ninguém. Externamente, amor de conta-gotas; por dentro, o magma ancestral borbulhando, barrado pela arcada dentária.
O aparato deve estar ajustado, recebendo por igual o peso de sua estrutura. Carregada pelos amparadores, ela reencontrava a doçura do apoio.
Feixes de luz transpassavam seu corpo.
Acompanhando o que considerava ser um de seus melhores momentos de lucidez sensorial, os ossos de sua face que, sem perceber, vinha massacrando ao longo de sua vida, gritaram seu apelo definitivo, fazendo-a desmoronar fisicamente.
Nas brumas da noite, tensão, ranger de dentes.
Sim, muita coisa deve ser trancada dentro de nós, ensinaram as vivências anteriores.
Deve-se usar um véu para ir ao confessionário. Branco, para quem é virgem. Hipótese contrária, preto ou cinza. Ansiosa, repassava cada passo do ritual: o que ia falar, o que o sacerdote iria responder... - Você é uma menina virtuosa, disse ele, sentenciando-lhe a penitência pelos pecados confessados.
Se não tiver confessado todas as suas faltas, o Corpo de Cristo sangrará em sua boca.
Também tem aquela máquina de apertar os dedos e outros inventos infalíveis para produzir sofrimento.
Cessadas as tentativas de extrair a confissão, ainda existem os instrumentos cortantes, capazes de retirar a pele, separar a carne dos ossos...
Qual era o segredo, afinal?
Ela nem se lembrava mais, tantos anos enterrada viva.
Ao receber o Chamado, reviveu a sensação de liberdade, como se voltasse de uma viagem ao centro da Terra.
O mestre havia dito que ela tinha um terceiro olho, onde se instalara uma energia prateada, que podia enxergar o invisível.
SacaRose, apelidara ele.
Talvez tivesse vislumbrado seu ser, previsto o desenrolar de toda história, usando seu dom inerente. Ou então, simplesmente, através de um processo natural, as sinonímias foram se agregando naturalmente.
Sacarose. Produto que tem uma origem natural, porém, existem adições químicas que o modificam. Fabricada para solucionar o amargor, equilibrar os desequilíbrios de doçura. Quase natural, quase perfeito.
Ela sempre se esforçava para adoçar os outros. Tinha as receitas. Era quase natural, quase perfeita. Podia passar despercebida, sem incomodar ninguém. Sem decepcionar ninguém. Externamente, amor de conta-gotas; por dentro, o magma ancestral borbulhando, barrado pela arcada dentária.
O aparato deve estar ajustado, recebendo por igual o peso de sua estrutura. Carregada pelos amparadores, ela reencontrava a doçura do apoio.
Feixes de luz transpassavam seu corpo.
Ela, dependurada.