A reação de uma criança a um simples vídeo me fez retornar aos porões a buscar uma pequena caixa empoeirada.
A porta se abre, surge um gatinho que brinca com uma bola de fios de lã. Não mais do que três segundos se passam, a porta azul se fecha sobre a cena.
A criança me pede para dar o replay infinitas vezes e, repentinamente, começa a expressar um crescente desespero: — Eu quero esse gatinho... eu preciso desse gatinho... vai buscar aquele gatinho... eu gosto muito dele... — argumentava, tentando sugerir formas de trazê-lo, até entregar-se a um choro sentido, as lágrimas brotando dolorosas.
Limpo a poeira da caixa, que se abre num facho de luz.
Do império do trabalho e das obrigações onde cresci, as imagens guardadas na pequena caixa não duram mais do que três segundos: beijo de esquimó, mãe costurando ao som de radionovela, avós descascando gomos de mexerica ou fazendo voar arroz na peneira, pai tecendo com Stardust ao fundo...
Das buscas por liberdade também as imagens são marcantes e efêmeras.
A porta azul simplesmente se abre, simplesmente se fecha, numa fração ínfima de tempo.
Aprendi com ela que não posso reter os personagens desses flashes. Preciso deixar que a porta se feche. Ficar atenta quando se abre, aproveitando cada segundo. Fazê-los reviver dentro de mim, inventar novas histórias...
Sem tempo para dizer adeus.
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